terça-feira, 13 de março de 2018

O professor analfabeto


O professor analfabeto está ignorantemente convencido que é um bom professor.
Ele recorre frequentemente e orgulhosamente ao seu título académico e tem dificuldade em ver o ensino para além da sua disciplina. Ele desvaloriza tudo o que é extra-curricular, tenta escapar a toda a atividade escolar fora da sala de aula e é crítico tímido e costumaz de diretivas. Mas ele não questiona com os alunos o que tem para ensinar, a pertinência do que ensina ou o modo como ensina.
O professor analfabeto não lê mais do que um vulgar analfabeto, a não ser os manuais, as atas que escreve e modelos de relatórios de autovaliação.

O professor analfabeto é tão limitado que mostra orgulho em não pertencer ao seu sindicato e é a ele que atira as culpas por o seu estatuto não passar do de um mero funcionário. O professor analfabeto tem sempre razões para não se juntar aos protestos da sua classe: ou porque a greve é só um dia ou porque são três, ou porque a greve é às avaliações e devia ser aos exames, ou porque a greve é à sexta e devia ser à segunda, ou porque precisa de dar a matéria ou lhe descontam um dia do mês, ou porque nem sequer tem a consciência histórica de que os direitos que ainda tem não caíram do céu. 

O professor analfabeto fica muito contente quando recebe as cartas do banco que o tratam por doutor e não gosta que o identifiquem como um funcionário, desses que ganham pouco e fazem greves como os mineiros ou os operários do lixo.

O professor analfabeto diz mal dos seus alunos, da sua escola, do seu sindicato e diz com orgulho que odeia a política. Não sabe que a sua ignorância é o instrumento de que se serve a alta política para conduzir os seus alunos, a sua escola, a sua classe a meros instrumentos dos seus interesses maiores. 
O professor analfabeto, de tão estéril, torna estéreis os seus colegas produtores, castra os seus alunos viris, torna o amanhã ontem, é um perfeito imbecil!

Não poderá ser do professor estéril que nascerá o amanhã! Amanhã a greve continua!

cuquice: qualquer semelhança com um texto de outrem é mera coincidência e este texto não é do Ricardo Araújo Pereira

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