Era de esperar que hoje de manhã tivesse despertado com o som da alvorada da festa da minha aldeia. Isso não aconteceu e, ainda entre os lençóis, cismei:
- Já não é a primeira vez que os mordomos apanham um cabra na véspera e, no dia da festa, não acordam para deitar a alvorada!
Eram dez horas e, não ouvindo o som das cornetas com a música do Quim Barreiros, pensei:
- Se calhar o leitor de cassetes avariou! Também não faz falta, a festa costuma ter barulho a mais!...
Também não era à hora da missa, eu que não sou dessas coisas e acho mesmo que não fazem justiça à tradição da terra, que eu iria até ao recinto. Nem mesmo ao almoço tenho ido porque não gosto de ver mesas de noivos sem ser em casamentos e cansei-me de me darem cabo da refeição com discursos de chacha e pedidos de salvas de palmas!
Quando à tarde me decidi a sair de casa e ir até ao arraial, estranhei ver tão poucos carros nas imediações e conclui:
- Isto é sempre a mesma coisa, o pessoal só se junta em força ao fim da tarde!
Quando finalmente ia a chegar ao largo abeirou-se de mim o "homem da bicicleta com muitas luzes" e perguntei-lhe porque é que este ano a festa estava tão fraca. Respondeu-me que o pessoal não saía de casa com medo que lhe pegassem a constipação.
- Ora porra! Eu bebia ao menos uma cerveja!
Não me ligou e destravou pela rua abaixo enquanto eu fiquei a congeminar um cigarro de abalada. Não tardou muito que o avistasse de novo a pedalar ladeira acima e me estendesse à mão duas minis, uma para cada um, portanto.
- São as duas para ti que eu não bebo!
- Ah! Muito obrigado!
- Passa mas é para cá cinco euros e deixa-te de obrigados!
Paguei-lhe e ele deu meia volta. Ainda pensei ligar a um amigo ou outro para fazer a festa mas, na verdade, tenho andado um pouco constipado. Permaneci ali algum tempo, com uma mini aberta em cada mão, com uma mão a falar com a outra, bebendo ora de uma, ora de outra e acabo de chegar a casa a pensar como foi eficiente o mordomo e como foi boa a festa da Cartaria.
Sem comentários:
Enviar um comentário